sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A seca e a cerca.

Tem uma praga maior que a seca, o modelo fundiário , sustentado por um sistema político perverso, eleito por um povo burro e submisso, quando tem chuva, o sertão não vira um paraíso. Se chuva resolvesse tudo, o norte do país, onde chove pra caramba, mas tem um povo mais ferrado, mais pebado, mais burro do que o povo nordestino. Em Israel, chove 1/3 do que chove no nordeste, no entanto nunca compuseram lá uma asa branca em hebraico.


Ao pacato cidadão
(autor: Allan Sales)
         I
Vou falar sem dizer mote
Meu pacato cidadão
As virtudes do meu dote
Da palavra inspiração
Pra mostrar e ter certeza
Não vem só da natureza
As misérias do sertão
         II
Quando a chuva molha a terra
Não fica tão diferente
Vejo povo nas estradas
Vai sem terra sem semente
Se a seca mata o gado
Latifúndio é mais malvado
Cria fome e mata gente
         III
Onde está teu Padim Ciço
Com anjinhos lá no céu
Onde está teu compromisso
Só discurso num papel
O povo não quer escola
Quer trabalho terra escola
Sem feitor sem coronel
         IV
Se eu falo no deserto
Cantando pra minha gente
Faço verso bem botado
Tantos acham insolente
Se esse povo nada muda
Vai morrer pedindo ajuda
Submisso e dependente
         V
Por aqui briga de foice
Pra ganhar o eleitorado
Pra prefeito presidente
Senador e deputado
O curral passando lista
Coisa de assistencialista
Hoje o boi é cadastrado
         VI
Um poder bem diferente
Nordestino e operário
Que chegou mandando a bolsa
Pra mudar triste cenário
A direita muda o texto
Diz que a bolsa é só pretexto
Pra ganhar voto de otário

         VII
A indústria que há seca
Na cultura também tem
Choram pela seca braba
Latifúndios poucos vem
Deixam quieto ruralista
Pois poeta conformista
Quer ser coronel também
         VI
Um Nordeste diferente
Falei num verso rimado
Sem curral de fazer voto
De eleger cabra safado
O Nordeste que eu prefiro
É o nordeste de Delmiro
Que sonhou Celso Furtado

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