domingo, 6 de agosto de 2017

Galope à beira mar das águas



São só três por cento das águas do mundo
Que são água doce pra vida viver
Mas só um por cento que se pode ter
Eu falo no verso aqui não confundo
As águas da terra problema profundo
E que desperdiça não sabe é usar
Com águas do mundo a desperdiçar
Jogando ela fora e faz desperdício
Pois tratar da água se faz sacrifício
As águas dos rios, do solo e do mar

Não lave seu carro usando a mangueira
Nem tome seu banho assim demorado
A água recurso a ser preservado
Um monte de gente fazendo besteira
Escovam seus dentes não fecham torneira
Torneira que deixa na pia a pingar
Não sabe que é caro da água tratar
Quem faz desse jeito tem pouco juízo
Pro mundo da gente só traz prejuízo
As águas dos rios, do solo e do mar

E quem só polui as fontes também
Os mananciais de água que temos
Assim no futuro só nós penaremos
Quem cuida dos rios pro mundo faz bem
Não joga poluente no rio que tem
Nem corta as matas da margem o lugar
O rio preserva pois sabe cuidar
E pensa presente também o futuro
Cuidando das águas de modo seguro
As águas dos rios, do solo e do mar

A água circula quando evapora
E vira uma chuva caindo na terra
Escorre pro rio e assim não se encerra
O ciclo das águas não tem tempo e hora
Pois entra na terra e bem fundo mora
Ressurge na fonte pro rio brotar
O rio que corre no mar vai chegar
Assim novamente tudo recomeça
Pois a natureza com água é sem pressa

As águas dos rios, do solo e do mar

CAPITANIA

Nem sempre beira de praia inspira coisas fofinhas. Eu antes de participar da FLIPORTO, contemplando o mar e pensando no codinome sinistro que deram aos africanos quando a senha é que havia galinhas no porto,para burlar a fiscalização do então proibido tráfico negreiro.
(Allan Sales- Porto de Galinhas em 23 de Março de 2006)

Implantou-se um porto exportador
A trazer negras gentes africanas
Estas naus tão cristãs tão lusitanas
Espalharam na terra tanta dor
Tudo em nome de um cristo redentor
De uma fé de leituras mais tiranas
Os engenhos e as fomes soberanas
De europeu que foi colonizador
As três raças no embate mais sangrento
Morre o índio que sempre irredento
Para a cana aí verter seu doce suco
E no tempo que segue a mesma história
Poucos tem jogam tantos na escória
Nestas plagas feudais de Pernambuco

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Verdes olhos

Numa tela vi dois olhos verdes lindos
A mulher tão serena como ela
Uma gueixa suave leve bela
Cujos sonhos de vida são infindos
E depois os momentos nossos vindos
A vibrar numa mesma pulsação
Eu e ela sentindo a emoção
E a vida pulsou sem dar aviso
Um olhar atraiu-me ao paraíso
Ao beijar fez vibrar meu coração


         ALLAN SALES

água e pedra

Eu aqui sigo insistindo
Me deitar no seu calor
Sou poeta trovador
Você vive em mim bulindo
E assim vou definindo
Que você é uma loucura
De beleza da mais pura
Que em mim deu xeque mate
Água mole tanto bate
Numa pedra até que fura

E assim na insistência
Nesse toque de carinho
Tocam notas do meu pinho
Musical em toda essência
Mas irei ter paciência
Pra fazer a tal pintura
De você linda figura
Que é musa deste vate
Água mole tanto bate
Numa pedra até que fura

Você quer mas me diz não
Que não é nosso momento
Eu aqui nesse tormento
Acelero o coração
O poema com emoção
Ponho nota em partitura
O meu sonho não segura
Quero um jogo sem empate
Água mole tanto bate
Numa pedra até que fura

Seduzir ser seduzido
Um balé da vida enfim
Tudo que mexendo em mim
Nesta hora expandido
O momento bem vivido
Mas será que ele dura
Alma que não diz censura
Pede que me arrebate
Água mole tanto bate
Numa pedra até que fura


ALLAN SALES

Falsos profetas (Allan Sales)


Este povo sonhando milagre
De profetas da enganação
Vem e compra pedaço do céu
Escarcéu tudo ao léu tudo em vão

E num mundo assim degradado
Sonha o céu carregando uma cruz
Vai penar carregar no presente
Esperando na morte sua luz

Pobres loucos e desesperados
Doam tudo a cada tostão
São ovelhas que gastam que votam
Dão poder ao ofício do cão

Avatar que nasceu de Maria
Distorceram seu grande sermão
No lugar os bezerros de ouro
Mercadores da enganação

Procurando a luz da verdade
Como ele um dia falou
Esqueceram amor da essência
E o inferno assim se criou

As loucuras plantadas nas mentes
De pecados cruéis punições
Adoecem pra vender a cura

Serventia das religiões

domingo, 25 de junho de 2017

RECEITA DO CAOS REPUBLICANO.


Junte tudo que é fascista
Parlamento de ladrão
E um vice usurpador
Neves pó no narigão
Junte a falta de decoro
Dallagnol, Gilmar e Moro
É um estado de exceção


ALLAN SALES.


sexta-feira, 23 de junho de 2017

sexta-feira, 14 de abril de 2017

SONETO DA ILUSÃO


E do jeito que olhaste foi veneno
Foi feitiço roubou o meu sossego
Cativou coração desse teu nego
Que rendeu-se a sonhar afeto pleno

Outro rumo o mundo fez aceno
E seguiste cigana sem apego
Teu afeto presente de um grego
Que aceitou coração em tempo ameno

Mas depois sobreveio a tempestade
E o tempo mostrou toda verdade
Dissipou ilusão que em nós campeia

O afeto que deste foi tão bom
Mas foi frágil enfeite de crepom
Pois no fundo foi canto de sereia

terça-feira, 11 de abril de 2017


MARTELO AGALOPADO NOTURNO


Fui ali encontrar naquela esquina
O que foi que restou verdade em mim
Encontrei um sinal bem verde enfim
E segui confiante em minha sina
O passado é mestre nos ensina
A não ser o que foi pra nós errado
Corrigir sempre  as rotas do traçado
Encarar superar tempos bisonhos
Com a poeira dos restos dos meus sonhos
Enterrei para sempre meu passado

E rever velhas coisas doutra forma
Reciclar para sempre pensamentos
Retomar os caminhos novos ventos
A verdade suprema como norma
E quem quer vai buscar e se transforma
Este é com certeza um predicado
De quem não se conforma aí calado
Pra espantar sentimentos mais tristonhos
Com a poeira dos restos dos meus sonhos
Enterrei para sempre meu passado

Eu vivi pude ver de tantos jeitos
Como a vida coloca tais ardis
E nos quer sempre tolos e servis
Aceitar detonar nossos direitos
Os caminhos que são assim refeitos
Pra seguir neste rumo aí tomado
Posso crer posso ver bem acordado
Sem viver pesadelos mais medonhos
Com a poeira dos restos dos meus sonhos
Enterrei para sempre meu passado



ALLAN SALES

sábado, 11 de março de 2017

a casa

É a casa do caralho
Tem a frente cabeluda
É quentinha umedecida
Uma boca mas é muda
Eu bem sei que fica aonde
Paraíso que se esconde
A serpente cabeçuda


domingo, 5 de março de 2017

ao natural

Todos seres do mundo também nós
Os humanos que fazem a ciência
Mas existe primal tal sapiência
Bem de antes de nossos bisavós
Natural a pulsar em nós tal voz
Que na vida comum que se revela
E pra nós vem pintar tão linda tela
Pois emana tudo em nós sua energia
Natureza possui sabedoria
Tudo brota do ventre que tem ela
ALLAN SALES

sábado, 4 de março de 2017

mote e glosa baseada em postagem da amiga Dalila

Superar o que foi acontecido
Transmutar e manter a mesma essência
Conseguir prosseguir com coerência
Ir avante sorrir mesmo ferido
E assim que a vida nos tem sido
Só quem quem sabe suplantar eu asseguro
Terá luz das candeias pro escuro
Desta forma será mais elevado
Ao deixar para trás triste passado
Só assim nos abraça algum futuro
ALLAN SALES

sexta-feira, 3 de março de 2017

POEMA QUÍMICO

Eu você dois elementos
Que se fundem na paixão
Por você eu me derreto
E sou todo coração
Seu amor meu combustível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão


E assim nós reagimos
A gerar todo calor
Sentimento e o fulgor
Tudo isso que sentimos
No caminho que seguimos
Energia e ativação
Ponto de ebulição
Tudo que nos é possível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão


Meu amor tua energia
Que ativa os hormônios
Atiçando meus neurônios
Toda essa fantasia
O teu toque tem magia
Do desejo em profusão
Provocando a combustão
Desta forma tão incrível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão


Meu amor tua energia
Que ativa os hormônios
Atiçando meus neurônios
Toda essa fantasia
O teu toque tem magia
Do desejo em profusão
Provocando a combustão
Desta forma tão incrível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão

Forças sim da natureza
Que se atraem mutuamente
Coração junto da mente
Encaixados com justeza
Como numa correnteza
Caudaloso rio então
Toda essa atração
Do visível e invisível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão

Tudo na boa medida
Onde tudo de acerta
O desejo bem alerta
Toda a pulsão de vida
A vontade incontida
Beijo toques duma mão
Onde todas coisas são
De vontade impassível
Seu calor é compatível
Com meu ponto de fusão




ALLAN SALES.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

É a flor mais delicada/ Que se rega todo dia

A palavra de carinho
Que se diz em hora certa
De saudade quando aperta
E vazio está o ninho
E assim neste caminho
O afeto sendo o guia
Do amor que irradia
Como sol numa alvorada
É a flor mais delicada
Que se rega todo dia

O afeto mais sincero
De jurar bem juradinho
Ser canção que vem do pinho
A dizer: amor te quero
É dizer que te espero
Por aqui com poesia
E compor a melodia
Pela hora mais sonhada
É a flor mais delicada
Que se rega todo dia


ALLAN SALES

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Atitude


Um bonde que nunca vem
Pego outro tenho o tino
Algo trava e não vai
Vou e sigo peregrino
Se farejo torta sina
Vou ali naquela esquina
Encontrar com meu destino


E assim é que tem sido
Sempre e sempre a atitude
Entre o vício e a virtude
Escolher o acontecido
Na manha, sem alarido
Xeque mate, vou ,defino
Sou assim desde menino
Não abaixo minha crina
Vou ali naquela esquina
Encontrar com meu destino

ALLAN SALES

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Meu amor.


Meu amor que do sertão é fulô
Se derrete com todo carinho
No calor que possui nosso ninho
Sussurrando me chama de amor

Meu amor ama tanto sua terra
Sobe a serra num rito de fé
Quando desce celebrando a vida
Ancestral encantado em toré

Dona Bina a mãe rezadeira
Abençoa acende essa vela
E Dudinha cuidando assim
Do sorriso dessa mãe tão bela

Meu amor que é suçuarana
Que é bicho do mato e na dela
Meu amor que me dá seu calor
E por isso sou louco por ela.

Vem de Pankararu meu amor
Velho Chico em linda visão
Meu amor peregrina no mundo
Meu amor que é alma e sertão

Meu amor me chegou disse assim
Me pegou me tomou pela mão
Meu amor doce beijo carmim
Virou dona do meu coração.


ALLAN SALES.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Enlevo, paixão e êxtase.

Vem suave como a brisa
Que no rosto beija leve
Cai sutil qual cai a neve
Vem assim não nos avisa
E de forma bem precisa
Tão exato o seu momento
Em segredo seu intento
Com melódica leveza
Tudo tem tal sutileza
Dum singelo sentimento

E assim todo carinho
De prenúncio da paixão
Que desperta um vulcão
Faz arder calor do ninho
O desejo então vizinho
Tudo vem e a contento
O dizer paixão ao vento
Hormônios na correnteza
Tudo isso põe certeza
Celebrando um sentimento

E depois corpos suados
Ofegantes os dizeres
No banquete dos prazeres
Dos afetos celebrados
Os desejos saciados
Um silêncio de convento
O amor veio sedento
Com fulgor da natureza
Somos tigre e tigresa
Celebrando o sentimento

E depois doce lembrança
De um momento assim vivido
De um leito aquecido
Por amor fogosa dança
Esse tempo de bonança
Do carinho todo invento
Onde o amor sentido atento
Tem em si toda grandeza
Eu e tu doce princesa
Celebrando o sentimento

ALLAN SALES


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

MATANDO UMA CHARADA DA REPÚBLICA.


Os aviões da FAB carregando os canalhas não caem,
agora eu entendo porque sempre voam pela FAB. Sabotar avião militar implica em matar militar, e isso os caras ainda não tem culhões para tanto. Não é por economia, todos eles tem amigos ricos que podem emprestar avião, eles tem grana pra alugar voo particular, é por saber que com a FAB esse perigo corre longe.É o único serviço público que a elite adora usar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

AS PESSOAS DO VERBO

Eu me chamo perplexo
Tu te chamas medo
Ele chama-se fome
Nós nos chamamos reféns
Vós vos chamai de cidadãos
Eles se chamam senhores do mundo

Eu me calo e espero a hora
Tu te calas e bebes
Ele se cala e enlouquece
Nós nos calamos e seguimos
Vós vos calais alienados
Eles se calam conspirando contra todos

Eu ameaço um auto exílio
Tu ameaças um suicídio
Ele ameaça: - é um assalto!
Nós ameaçamos uma greve
Vós ameaçais “até breve”
Eles ameaçam de morte

Eu penso em prosseguir
Tu pensas em consumir
Ele pensa em sobreviver
Nós pensamos bem diferente
Vós pensais que sabeis de tudo
Eles pensam que ainda pensam por nós

Curuminha

A mulher que é sentimento
Veio assim raio de luz
Um sorriso que reluz
Que seduz todo momento
Curuminha meu intento
É viver toda emoção
Teu pulsar teu coração
És mulher iluminada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

Tudo em ti todo carinho
Todo toque é sedutor
O feitiço deste amor
Tu és flor do meu caminho
A canção brota do pinho
Todo verso em criação
Do afeto a pulsação
Nesta vida celebrada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

Toda hora do meu dia
Lembro assim a toda hora
Teu amor doce senhora
És razão da poesia
Todo encanto em melodia
Universo de canção
Curuminha a inspiração
Minha alma assim tocada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

ALLAN SALES.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

CLEPTOCRACIA

Classe média idiota repetiu
Velho rito golpista do passado
Permitiu ser refém o nosso estado
Neste golpe seboso que se urdiu
E o Temer e a gangue que assumiu
Pra deter o que chamam de sangria
Roubalheira demais só putaria
Entre nós a mais velha das mazelas
O poder que brotou dessas panelas
Desaguou numa cleptocracia

E nas ruas os coxinhas bem irados
A querer fora Dilma ferozmente
Bolsonaro e Frota nessa frente
Idiotas aos montes celerados
A tirar umas selfies com soldados
A pedir ter de volta a tirania
Classe média escrota quem diria
Por aí com camisas amarelas
O poder que brotou dessas panelas
Desaguou numa cleptocracia

Entropia

A desastrosa ação dos políticos começa pela bem adestrada ação do sistema com sua mídia, que adestra alienando uma massa de manobra, inclusive de classe média , a mais imbecil delas, que é burra por opção de ser burra, a massa pobre ,preta e parda é burra por imposição da negação de acesso ao conhecimento. Ação desastrada de um povo adestrado pra ser alienado, que faz o jogo dos algozes, com o beneplácito de quem assiste depois de insuflar a barbárie política a mando das redes de comunicação. Esse lixo humano do presídio é só o pus da ferida que toma conta do tecido social esgarçado por séculos de aviltamento da cidadania e só levará ao caos completo, à anomia e à guerra civil, de extermínio dos excedentes populacionais que os donos do mundo acham ser a solução final pra tudo.


REGGAE DO CAOS
                        (ALLAN SALES)

A cidade ferve pois perdeu a esperança
Pois a  parte que consome trancou-se no armário
Muito em breve irão bater os que não puderam ter os que não puderam ser
Os que não serão jamais
Num porre de liberdade tomarão toda cidade e com sede de vingança
Quebrarão todas vitrines  Todo caos que vai nascer
A cidade irá tremer violência e tanto crime
Segurança nacional paranóia dos milicos
Novamente eles vão ser capatazes dos mais ricos
Vão botar para fuder e no fim quem vai vencer
Tio Sam ô macaquitos           
Tio Sam ô macaquitos


Obrigado Dona Zeza, a declamadora de Mimoso.


Estava em plena atividade de oficina de literatura de cordel no Distrito de Mimoso, Pesqueira-PE com um grupo de 25 adolescentes do local. No caso uma das atividades da Jornada Literária do Portal do Sertão, evento produzido pelo SESC-PE.

A garotada bem tímida no começo, um ou outro mais saliente participando efetivamente da atividade que eu nessa hora desenvolvia de construir sextilhas a partir de versos sugeridos por eles mesmos. De repente, entra na sala uma anciã bem agitada, falando que gostava de poesia e que desejava mostrar ali uns versos. Uma das meninas, demonstrando constrangimento diz pra mim se tratar de sua avó, e diz discretamente: é minha avó, ela e amostrada demais e é doida. Mostrando-se envergonhada com a presença da senhora, eu questionei o porquê desse sentimento, ela não respondeu.

Em seguida, os demais jovens entram numa algazarra muito estridente, corroborando a mal estar da menina que não se sentia bem com presença da senhora invadindo nossa cena. Vaiando a velha, e dando a entender que ela deveria retirar-se. Eu esbravejei sem titubear e disse:- olha essa falta de respeito com a idosa, onde vocês aprenderam isso? Um dos jovens responde:- que nada , essa véia é uma doida. Eu retruquei e perguntei se a loucura dela dava razão para aquela falta de respeito. Eles se calaram, eu disse pra ela me mostrar o seu poema.

No começo da oficina eu falara para eles sobre a transmissão da cultura oral, típica de grupos humanos analfabetos ou com pouco acesso à cultura letrada. Ali eu tinha uma anciã que nos brindaria com algo da cultura popular que lhe fora legado por sua avó, que segundo ela nos falara era analfabeta. Ela declamou essa quadra:

“Menino dos olhos pretos / Sobrancelhas de veludo/ O teu pai não tem dinheiro/ Mas teus olhos valem tudo” .

Eu ali na hora escrevi na cartolina esse poema, e mostrei pra eles que se tratava de versos de sete sílabas métricas, iguais aos que estávamos estudando e produzindo ali. E disse que muitos cordéis também foram escritos em quadras como aquelas que a Dona Zeza nos mostrara ali com tanta eloqüência.

Completei dizendo pra eles:- fosse eu entrar na de vocês, a gente não teria oportunidade de aprender um verso antigo desses que a bisavó dessa menina passou pra Zeza. Pedi palmas pra Zeza, eles aplaudiram a velha senhora, dessa vez, com entusiasmo e o respeito que ela merecia.

Contei o fato para minha irmãzinha Susana Morais que estava dando oficina para uma turma de crianças ali mesmo em Mimoso. Dia seguinte, Susana me contou que durante a apresentação de um trio de poetas declamando uma homenagem a Luiz Gonzaga, Dona Zeza apareceu solicitando uma pauta no palco, subiu, se mostrou como de costume, dessa vez apupada entusiasticamente pelos jovens de minha oficina e demais moradores que entraram no mesmo clima. Ganhei o meu dia.