sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

MATANDO UMA CHARADA DA REPÚBLICA.


Os aviões da FAB carregando os canalhas não caem,
agora eu entendo porque sempre voam pela FAB. Sabotar avião militar implica em matar militar, e isso os caras ainda não tem culhões para tanto. Não é por economia, todos eles tem amigos ricos que podem emprestar avião, eles tem grana pra alugar voo particular, é por saber que com a FAB esse perigo corre longe.É o único serviço público que a elite adora usar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

AS PESSOAS DO VERBO

Eu me chamo perplexo
Tu te chamas medo
Ele chama-se fome
Nós nos chamamos reféns
Vós vos chamai de cidadãos
Eles se chamam senhores do mundo

Eu me calo e espero a hora
Tu te calas e bebes
Ele se cala e enlouquece
Nós nos calamos e seguimos
Vós vos calais alienados
Eles se calam conspirando contra todos

Eu ameaço um auto exílio
Tu ameaças um suicídio
Ele ameaça: - é um assalto!
Nós ameaçamos uma greve
Vós ameaçais “até breve”
Eles ameaçam de morte

Eu penso em prosseguir
Tu pensas em consumir
Ele pensa em sobreviver
Nós pensamos bem diferente
Vós pensais que sabeis de tudo
Eles pensam que ainda pensam por nós

Curuminha

A mulher que é sentimento
Veio assim raio de luz
Um sorriso que reluz
Que seduz todo momento
Curuminha meu intento
É viver toda emoção
Teu pulsar teu coração
És mulher iluminada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

Tudo em ti todo carinho
Todo toque é sedutor
O feitiço deste amor
Tu és flor do meu caminho
A canção brota do pinho
Todo verso em criação
Do afeto a pulsação
Nesta vida celebrada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

Toda hora do meu dia
Lembro assim a toda hora
Teu amor doce senhora
És razão da poesia
Todo encanto em melodia
Universo de canção
Curuminha a inspiração
Minha alma assim tocada
Curuminha doce amada
És fulô deste sertão

ALLAN SALES.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

CLEPTOCRACIA

Classe média idiota repetiu
Velho rito golpista do passado
Permitiu ser refém o nosso estado
Neste golpe seboso que se urdiu
E o Temer e a gangue que assumiu
Pra deter o que chamam de sangria
Roubalheira demais só putaria
Entre nós a mais velha das mazelas
O poder que brotou dessas panelas
Desaguou numa cleptocracia

E nas ruas os coxinhas bem irados
A querer fora Dilma ferozmente
Bolsonaro e Frota nessa frente
Idiotas aos montes celerados
A tirar umas selfies com soldados
A pedir ter de volta a tirania
Classe média escrota quem diria
Por aí com camisas amarelas
O poder que brotou dessas panelas
Desaguou numa cleptocracia

Entropia

A desastrosa ação dos políticos começa pela bem adestrada ação do sistema com sua mídia, que adestra alienando uma massa de manobra, inclusive de classe média , a mais imbecil delas, que é burra por opção de ser burra, a massa pobre ,preta e parda é burra por imposição da negação de acesso ao conhecimento. Ação desastrada de um povo adestrado pra ser alienado, que faz o jogo dos algozes, com o beneplácito de quem assiste depois de insuflar a barbárie política a mando das redes de comunicação. Esse lixo humano do presídio é só o pus da ferida que toma conta do tecido social esgarçado por séculos de aviltamento da cidadania e só levará ao caos completo, à anomia e à guerra civil, de extermínio dos excedentes populacionais que os donos do mundo acham ser a solução final pra tudo.


REGGAE DO CAOS
                        (ALLAN SALES)

A cidade ferve pois perdeu a esperança
Pois a  parte que consome trancou-se no armário
Muito em breve irão bater os que não puderam ter os que não puderam ser
Os que não serão jamais
Num porre de liberdade tomarão toda cidade e com sede de vingança
Quebrarão todas vitrines  Todo caos que vai nascer
A cidade irá tremer violência e tanto crime
Segurança nacional paranóia dos milicos
Novamente eles vão ser capatazes dos mais ricos
Vão botar para fuder e no fim quem vai vencer
Tio Sam ô macaquitos           
Tio Sam ô macaquitos


Obrigado Dona Zeza, a declamadora de Mimoso.


Estava em plena atividade de oficina de literatura de cordel no Distrito de Mimoso, Pesqueira-PE com um grupo de 25 adolescentes do local. No caso uma das atividades da Jornada Literária do Portal do Sertão, evento produzido pelo SESC-PE.

A garotada bem tímida no começo, um ou outro mais saliente participando efetivamente da atividade que eu nessa hora desenvolvia de construir sextilhas a partir de versos sugeridos por eles mesmos. De repente, entra na sala uma anciã bem agitada, falando que gostava de poesia e que desejava mostrar ali uns versos. Uma das meninas, demonstrando constrangimento diz pra mim se tratar de sua avó, e diz discretamente: é minha avó, ela e amostrada demais e é doida. Mostrando-se envergonhada com a presença da senhora, eu questionei o porquê desse sentimento, ela não respondeu.

Em seguida, os demais jovens entram numa algazarra muito estridente, corroborando a mal estar da menina que não se sentia bem com presença da senhora invadindo nossa cena. Vaiando a velha, e dando a entender que ela deveria retirar-se. Eu esbravejei sem titubear e disse:- olha essa falta de respeito com a idosa, onde vocês aprenderam isso? Um dos jovens responde:- que nada , essa véia é uma doida. Eu retruquei e perguntei se a loucura dela dava razão para aquela falta de respeito. Eles se calaram, eu disse pra ela me mostrar o seu poema.

No começo da oficina eu falara para eles sobre a transmissão da cultura oral, típica de grupos humanos analfabetos ou com pouco acesso à cultura letrada. Ali eu tinha uma anciã que nos brindaria com algo da cultura popular que lhe fora legado por sua avó, que segundo ela nos falara era analfabeta. Ela declamou essa quadra:

“Menino dos olhos pretos / Sobrancelhas de veludo/ O teu pai não tem dinheiro/ Mas teus olhos valem tudo” .

Eu ali na hora escrevi na cartolina esse poema, e mostrei pra eles que se tratava de versos de sete sílabas métricas, iguais aos que estávamos estudando e produzindo ali. E disse que muitos cordéis também foram escritos em quadras como aquelas que a Dona Zeza nos mostrara ali com tanta eloqüência.

Completei dizendo pra eles:- fosse eu entrar na de vocês, a gente não teria oportunidade de aprender um verso antigo desses que a bisavó dessa menina passou pra Zeza. Pedi palmas pra Zeza, eles aplaudiram a velha senhora, dessa vez, com entusiasmo e o respeito que ela merecia.

Contei o fato para minha irmãzinha Susana Morais que estava dando oficina para uma turma de crianças ali mesmo em Mimoso. Dia seguinte, Susana me contou que durante a apresentação de um trio de poetas declamando uma homenagem a Luiz Gonzaga, Dona Zeza apareceu solicitando uma pauta no palco, subiu, se mostrou como de costume, dessa vez apupada entusiasticamente pelos jovens de minha oficina e demais moradores que entraram no mesmo clima. Ganhei o meu dia.



domingo, 15 de janeiro de 2017

AO MESTRE CHÁRLITON PATRIOTA COM MEUS RESPEITOS


Meu amigo sertanejo
Atravessador de rios
Sejam eles caudalosos
Como são tempos sombrios
Se da sombra tira o som
Pra virar-se em tempo bom
Onde só o som dos brios
ALLAN SALES

Muito embora nascido no sertão


sábado, 14 de janeiro de 2017

GALOPE II

Um raio de luz que veio num dia
Singela e solene tocando em tudo
Tão simples na forma de ser e contudo
Me fez ser canção e toda poesia
Pessoa de luz que em mim irradia
De noite de dia me faz bem sonhar
Me toca me ganha me faz delirar
Se perto ou distante a mim pouco importa
O mundo que abriu cancela e porta
A ela querer, viver sempre amar

ALLAN SALES.


GALOPE

Meu verso chegando não fica no gueto
E corre pra rua na alma é mestiço
Meu verso do povo além do castiço
No mundo chegando ocupa o coreto
Assim o poema pro mundo remeto
Aqui nesta hora do meu versejar
Ponteio das cordas que fica no ar
Vestindo com notas a nossa poesia
Cantando rimando com toda alforria
Cantando galope na beira do mar

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A seca e a cerca.

Tem uma praga maior que a seca, o modelo fundiário , sustentado por um sistema político perverso, eleito por um povo burro e submisso, quando tem chuva, o sertão não vira um paraíso. Se chuva resolvesse tudo, o norte do país, onde chove pra caramba, mas tem um povo mais ferrado, mais pebado, mais burro do que o povo nordestino. Em Israel, chove 1/3 do que chove no nordeste, no entanto nunca compuseram lá uma asa branca em hebraico.


Ao pacato cidadão
(autor: Allan Sales)
         I
Vou falar sem dizer mote
Meu pacato cidadão
As virtudes do meu dote
Da palavra inspiração
Pra mostrar e ter certeza
Não vem só da natureza
As misérias do sertão
         II
Quando a chuva molha a terra
Não fica tão diferente
Vejo povo nas estradas
Vai sem terra sem semente
Se a seca mata o gado
Latifúndio é mais malvado
Cria fome e mata gente
         III
Onde está teu Padim Ciço
Com anjinhos lá no céu
Onde está teu compromisso
Só discurso num papel
O povo não quer escola
Quer trabalho terra escola
Sem feitor sem coronel
         IV
Se eu falo no deserto
Cantando pra minha gente
Faço verso bem botado
Tantos acham insolente
Se esse povo nada muda
Vai morrer pedindo ajuda
Submisso e dependente
         V
Por aqui briga de foice
Pra ganhar o eleitorado
Pra prefeito presidente
Senador e deputado
O curral passando lista
Coisa de assistencialista
Hoje o boi é cadastrado
         VI
Um poder bem diferente
Nordestino e operário
Que chegou mandando a bolsa
Pra mudar triste cenário
A direita muda o texto
Diz que a bolsa é só pretexto
Pra ganhar voto de otário

         VII
A indústria que há seca
Na cultura também tem
Choram pela seca braba
Latifúndios poucos vem
Deixam quieto ruralista
Pois poeta conformista
Quer ser coronel também
         VI
Um Nordeste diferente
Falei num verso rimado
Sem curral de fazer voto
De eleger cabra safado
O Nordeste que eu prefiro
É o nordeste de Delmiro
Que sonhou Celso Furtado

ARTE

A arte que pulsa tão forte nas veias
Que chega na hora de forma incontida
Pois arte é parte mais viva da vida
Na mente da gente pois rompe cadeias
No mundo espalha candentes candeias
Da alma com arte que segue e altiva
No mundo chegando o entorno cativa
Pois arte que pulsa afirma em certeza
Que a chama da arte mantenha-se acesa
Tornando a vida ainda mais viva


ALLAN SALES

Um país que legou-nos Villa Lobos / Hoje pena com Anita e Safadão




















  


     I
Já tivemos uns tempos mais felizes
Que canções de primeira se ouvia
Todas tinham poema e melodia
E seguiam por outras diretrizes
E as rádios não eram meretrizes
A tocar de Jobim a Gonzagão
O Brasil num tesouro de canção
Pra virar um país de tantos bobos
Um país que legou-nos Villa Lobos
Hoje pena com Anita e Safadão
II
Musical meu país ainda é
Só não dão mais espaço pra quem presta
A indústria que manda tão funesta
Só em lixo dos grandes bota fé
E pra isso TV dá pra ralé
Todo tipo vulgar de encenação
Coisa burra sebosa sem noção
Não é coisa de seres que são probos
Um país que legou-nos Villa Lobos
Hoje pena com Anita e Safadão
         III
Fuleiragem demais vulgaridade
E o som que se faz apelativo
A TV a mostrar o lixo ao vivo
Invadindo no campo e na cidade
O Brasil que possui diversidade
Desde samba toadas e o baião
Afoxé tem rancheira de montão
Que não mostram aí em suas globos
Um país que legou-nos Villa Lobos
Hoje pena com Anita e Safadão
         IV
E a massa fiel alienada
Compra tudo que vende tal sistema
Desconhece beleza de um poema
De canção bem composta bem tocada
Só conhece o som desta cambada
E assim prosseguir na enganação
Espalhar a burrice a alienação
Embalar seus miolos de bonobos
Um país que legou-nos Villa Lobos
Hoje pena com Anita e Safadão
         V
O Brasil musical nesta desgraça
A indústria mandado porcaria
A pobreza sonora que se cria
Toda hora nas telas que isso passa
Isso é ruim demais é só trapaça
Reclamar detonar não é em vão
Cultural meu Brasil minha nação
Que resiste assim em sua saga
Um país que legou Luiz Gonzaga
Hoje pena com Anita e Safadão
         VI
Tem demais os que criam coisa boa
Não morreu entre nós todo talento
Que se faz com sentido seu invento
E assim musical meu Brasil soa
Na canção verdadeira que se entoa
Com sanfona cavaco e um violão
E também uma linda orquestração
Um talento de gente boa assim
Um país que legou-nos Tom Jobim
Hoje pena com Anita e Safadão


O ciclo de tudo e em todo lugar



O tempo presente que vem do passado
Deságua num rio chamado futuro
Assim segue o mundo num tempo tão duro
O homem vivente que tem do seu lado
Pois vê finitude no fim do legado
A vida começa e segue ao trilhar
A gente mal nasce começa a findar
O tempo decresce em nós cada dia
A vida renasce transforma energia
O ciclo de tudo e em todo lugar

O ser natural que tem na matéria
O ser que é mente que move pensando
Junção desses corpos ciência buscando
A morte portal de era funérea
A alma modelo de vida etérea
Explicam sistemas pra gente pensar
Se fé ou ciência pra gente trilhar
Se finda plano ou tem outra vida
Pergunta de sempre na alma incontida
O ciclo de tudo e em todo lugar

Assim finitude ou segue outra forma
A terra transforma recicla sem fim
A gente vem nasce e morre enfim
A terra nos come em vermes transforma
Constrói outros seres de nós faz reforma
E nós que volvemos na terra morar
Assim elementos pra se reciclar
A alma vagueia aí noutros planos
Nos falam escritas e negam os mundanos

O ciclo de tudo e em todo lugar    

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Loucura nossa de cada dia..






























Einstein foi um louco com certeza
Amadeus grande Mozart foi também
Villa Lobos foi louco mandou bem
Cada um com a sua natureza
O Raul foi maluco bem beleza
Tem ciência na loucura o musical
Pois loucura faz a coisa genial
Qual Dali ao fazer sua pintura
Todos nós temos pouco de loucura
Pois de perto ninguém pode ser normal

E Van Gogh na certa um bom pirado
Teve surtos demais grande pintor
Quem é louco num mundo opressor
Se defende assim pelo seu lado
Leonardo da Vinci inspirado
Endoidou mas não foi pro hospital
Sanatório diz Chico que é geral
O Brasil ao findar a ditadura
Todos nós temos pouco de loucura
Pois de perto ninguém pode ser normal

A moral castradora a repressão
Opressão dos apelos de consumo
Faz aí muita gente perder rumo
Padecer por aí com depressão
Bipolar ou esquizo aí então
Causar surtos demais é bestial
Provocar e sofrer pane mental
Detonar do juízo a estrutura
Todos nós temos pouco de loucura
Pois de perto ninguém pode ser normal

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

MINHA CARTA DE ALFORRIA / MINHA ALMA DE POETA

A criar mundos estranhos
Levo a vida desvairado
Caio fora do cercado
E de todos os rebanhos
E assim todos meus ganhos
Tudo aquilo que completa
Traço curva traço a reta
Nesta minha rodovia
Minha carta de alforria
Minha alma de poeta

Os senhores deste mundo
A tomar todos espaços
Explorar todos os braços
Com seu modo iracundo
Hoje vejo não confundo
Como esse povo pateta
Essa humanidade beta
Gado nesta economia
Minha carta de alforria
Minha alma de poeta

O falso libertador
Outra face da moeda
Do poder que não arreda
Outro lado do opressor
Tem pulsão de ditador
Isso tudo que acarreta
E por ser falso profeta
Com sua vã demagogia
Minha carta de alforria

Minha alma de poeta

Fé de Constantino.


Constantino o romano
O tirano e imperador
Desta fé fez-se senhor
E por cristo foi tirano
E assim fez o seu plano
De romana conversão
Ele que virou cristão
Por espada de assassino
Esta fé de Constantino
O evangelho não é não

Disse que foi revelado
Em um sonho que ele teve
Nada mais assim deteve
Constantino assim postado
E mandou tanto soldado
Pra cumprir santa missão
Mas se fez perseguição
Ao cristão mais genuíno
Esta fé de Constantino
O evangelho não é não

O cristão original
Era assim bem diferente
Sua forma de ser crente
Na palavra divinal
E ao mundo clerical
Constantino deu feição
Fez cooptação
E pra isso foi ladino
Esta fé de Constantino

O evangelho não é não

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

PULIÇA.


Vendo esses jornais televisivos falando à exaustão desse pavoroso acidente envolvendo uma viatura da PM no Morro da Conceição que matou duas pessoas e feriu outras.

A PM não tem a menor consideração por áreas habitadas por pessoas pobres, andavam em alta velocidade, numa contramão, imprudência pura, a lombada deve ter causado o acidente com o motorista perdendo o controle devido à velocidade imprudente com a qual ele pilotava a viatura. O que salta às vistas é essa cultura de esculacho desses cabras em áreas de baixa renda, e como sempre, o comando na mídia aliviando pro lado deles, é essa cultura de corporativismo que ferra com a credibilidade da corporação.

Eu morei sempre na Imbiribeira em área de classe média, depois de 1985, quando me vi obrigado por motivos financeiros a morar em bairro popular, é que pude sentir isso bem de perto e na pele.

Eu chegara do trabalho, resolvi ir até uma praça do bairro aonde havia uns botecos populares que também serviam, além de bebidas alcoólicas comida caseira de boa qualidade. O entorno da praça era e a própria eram uma zona de consumo de maconha, razão pela qual as polícias sempre rondavam e davam suas batidas em busca de gente com posse de drogas ou armas.

Eu comia um prato de macaxeira com galinha, de repente uma blitz de PM. Caras falando de forma ríspida e grosseira com todo mundo, dando baculejo em todo mundo. Eu permaneci no meu canto comendo na boa, quando senti uma cutucada de cassetete na altura dos rins, mandando eu me levantar. Eu levantei, dei boa noite, abri a carteira e mostrei meu RG pro soldado. Ele olhou, me revistou e minha bolsa, que tinha num dos compartimentos meus remédios de controle de hipertensão. Perguntou de forma esquisita para que tanto remédio, eu respondi:- sou hipertenso, tomo esse beta bloqueador, esse diurético e esse ansiolítico cidadão, mostrando pra ele cada caixa de medicação. E essa calma toda, não tem medo de polícia? Perguntou em seguida. Eu disse:- tenho respeito pela PM , medo de polícia quem deve ter é bandido, não trabalhador feito eu. Aí um outro falou, porra cara, esse cara aí tem cara de quem já foi militar. Eu na mesma calma disse: - fui não , eu sou, tenente da reserva do exército brasileiro. Aí o imbecil pela minha carteira de milico, eu disse:- nunca tirei, porque vivo como civil e o cidadão tem que ser respeitado por ser cidadão e não precisa de dar carteirada pra ser respeitado.


Foda foi a cara da manezada em volta, acho que esperando a hora de um cabra daqueles perder a linha e fazer alguma arbitrariedade. Nada fizeram, me deixaram ali e os demais, nada encontraram e foram destilar seus recalques em outros setores com toda certeza.

Capataz da burguesia...


SALVE GRANDE ADELSON BÓRIS

Disse grande Adelson Boris
Quem de graça lhe chamar
Em nome de uma mostra
Seu trabalho "divulgar"
Pois de graça é o caralho
"Divulgar seu trabalho"
É um trabalho de vulgar

ALLAN SALES

PASSADO PRESENTE QUE NÃO QUER PASSAR


domingo, 8 de janeiro de 2017

COLETIVO DE ARTE EM MOVIMENTO DO RECIFE


C' est moi


Salve Valmir Jordão!!


QUINTAS DE MÚSICA COM POESIA


Retomamos a programação de 2017 no Caldo de Boteco, com o projeto de sempre. Estreando dia 12 de janeiro nossa amiga Mauricéa Santana , dia 26/01/17 nosso amigo Marlos Guedes com seu livreto de poemas.



A transgressão dos babacas.


A contra cultura dos anos 60 que deu no movimento hippie, assim como nas revoltas estudantis na França em 1968 marcou profundamente nosso mundo. A contestação do modo ocidental de vida, dos valores burgueses, levaram muitos a se rebelar, usar cabelos grandes, roupas espalhafatosas e uso de drogas para alargar os níveis de percepção da mente. Vemos isso até hoje, há uma tribo que ainda vive segundo essas normas de contestação e resistência (segundo muitos que pude conhecer). Há uma legião de gente no meio literário que adota essa cultura neo-hippie em nossos dias no sentido mais de usar os ícones da contestação, já que muitos trabalham ou dão um jeito de produzir para prover suas necessidades.

É uma postura diante das coisas prática da vida até certo ponto romântica, quixotesca e juvenil, já que quem optou por esse modo de encaminhamento é avesso à organização de movimentos políticos, execra os que são empreendedores chamando-os genericamente de capitalistas e, é claro de careta quem não celebra como eles seus rituais sociais. Sempre tive uma convivência até certo ponto pacífica com esse povo, por estar no meio das artes de música, teatro e posteriormente poesia, sempre os encontrei, interagi com alguns, sempre esbarrando em algum conflito quando algum deles entrou em rota de colisão por não concordar com alguns dos meus processos de trabalho e realizações culturais que venho empreendendo no Recife desde 2003.

Em 2004, criei no espaço Pasárgada, na Rua da União o evento UNIÃO COM BANDEIRA, juntando os poemas autorais dos diversos poetas que tinham livros lançados em nossa região metropolitana. O diretor do espaço cultural, o jornalista Valdi Coutinho, permitiu que eu instalasse na Casa de Manuel Bandeira meu projeto, que contava com a colaboração do jornalista Bráulio Brilhante e do hoje falecido poeta e professor de Língua Portuguesa Chico Espinhara. Não havia verba do órgão gestor da casa para remunerar nossa atividade, razão pela qual me foi permitido expor e comercializar meus folhetos de cordel e montar um boteco improvisado através do qual eu e meus parceiros poderíamos auferir algum ganho, coisa que no meu caso não havia como abrir mão desse processo.

Uma vez em Olinda, um desses alternativos, após eu me apresentar num recital no Centro Luiz Freire e anunciar meu evento subiu ao palco logo em seguida. Fez sua apresentação e no fim soltou uma pérola, algo mais ou menos assim: - gente eu tenho meu recital que existe há mais de 3 anos, sempre nas quintas-feiras, a partir da meia noite, todo dia numa local diferente onde a pessoa que abriga o recital organiza o mesmo e um coquetel com bebidas. Todos podem ir, não pagarão por nada, mesmo porque eu não me presto a realizar eventos com fins lucrativos. Desceu do palco com um riso se superior e debochando de quem se apresentou antes. Eu calmamente me dirigi até ele e candidamente disse: - faço com fins lucrativos porque, ao contrário de você não sou parasita, gigolô e meus dois filhos,ao contrário dos seus,eu sou provedor das despesas deles e não os deixo nas costas da mãe como você faz. Fui execrado publicamente, mas no plano privado dei o troco que esse imbecil merecia, sem nenhuma resposta desse folgado é claro.

Outro coleguinha dele, em pleno recital no Espaço Pasárgada, em companhia de um europeu e sua namorada brasileira afro-descendente, resolveu acender bem perto de onde o povo se apresentava um cigarro de maconha. Estavam fumando e eu me aproximei e pedi que o colega apagasse o baseado dele. Ele alterou-se e esbravejou comigo:- meu irmão, que repressão da porra é essa? Eu calmamente expliquei pra ele que o local em que estávamos era uma repartição pública e que seu diretor me pediu encarecidamente que não permitisse essa prática por lá. Pior de tudo, o cabra é professor de escola pública e não teve a menor sensibilidade de perceber que um flagra da segurança da casa geraria um fato policial que queimaria o filme de toda uma comunidade de artistas que naqueles tempos, através de nossa iniciativa, tinha um espaço de visibilidade, já que os jornais da cidade e a agenda cultural nos deram seu apoio. Essa é a transgressão dos babacas. Pouco tempo depois encerrei minha presença por lá por causas das reformas que o imóvel sofreria e segui por aí inventando, como até hoje faço formas de por na fita a minha produção cultural de outros artistas que se afinam com a proposta.

ALLAN SALES



MAIS DE 15 ANOS SEM BEBER.

Em 14 de outubro de 2001, um final de domingo eu estava completamente bêbado depois de uma garrafa de cachaça que havia ingerido na tarde. Separado e pai de dois meninos que passavam fim de semana comigo e que testemunhavam minhas constantes e contumazes bebedeiras que sempre extrapolavam o que se chama de “beber socialmente”. Minha irmã mais velha me chama pra uma conversa e fala daquela coisa deprimente dos meninos sempre verem o pai deles passando da conta na bebida. Era mais um dos muitos sermões que o povo de casa costumava dar, na vã tentativa de me afastar dos excessos com o álcool.

 Desta vez ela me oferece uma consulta com um psiquiatra especializado em dependência química, o qual tinha feito com sucesso o tratamento de um colega de trabalho dela vítima do alcoolismo. Eu relutei, mas, na terça feira seguinte, lá estava eu em companhia do Dr. Jorge Arruda para a consulta que minha irmã agendou e pagou. Ele, com muito tato, fez perguntas acerca da minha relação com o álcool, coisas como a quantidade que ingeria, a modalidade de álcool, a freqüências dos pileques, as motivações para beber, a existência de parentes alcoólatras, o tipo de ambiente social em que eu vivia, etc. O médico atestou meu perfil de compulsivo, não era um julgamento moral, mas uma constatação do meu psiquismo que determinava esse comportamento anômalo de beber desbragadamente, fora de controle, com todos os comportamentos anti sociais que os pinguços em geral apresentam. Falou que o que determinava esse quadro clínico era uma conjunção de fatores genéticos, comportamentais e sócio culturais, já que a herança genética favorecia mas não determinava que alguém se tornasse alcoólatra.

Eu sou filho e neto de alcoólatras, fui educado em ambiente em que o ato de ingerir bebidas alcoólicas era reforçado pelo grupo de referência, como afirmação da sociabilidade e a masculinidade do sujeito. De fato, aluno de escola militar desde os 12 anos, passando mais um ano no CPOR do Recife, meus pares sempre bebiam pra comemorar fosse lá o que houvesse: festas, torneios esportivos, etc. Aprendi a beber com cerca de 17 anos, no ano em que ganhei o torneio de xadrez dos jogos escolares, foi meu primeiro pileque, cheguei em casa com a medalha de ouro, o troféu e de cara cheia. Depois disso, num crescente, passei a viver como boêmio, minhas vivências musicais favoreceram a presença do álcool em minha vida. Dos 25 anos em diante, tenho certeza que passei a ingerir bebida alcoólica bem além dos limites do beber socialmente.

O médico deu-me duas opções: continuar bebendo e adquirir alguma doença associada ao consumo excessivo e morrer disso, ou redimensionar minha vida, afastando completa e totalmente o álcool de minha vida. O ser humano com perfil de compulsivo quando deixa de consumir seu objeto de compulsão, seja lá qual droga, não consegue segurar o impulso de consumir, uma vez consumindo, toda a compulsão volta e a pessoa não mais controla esse impulso e volta com toda carga. Ou seja, não existe essa de deixar por um tempo, consumir menos, compulsivo simplesmente não controla sua vontade uma vez consumindo álcool. É verdadeira aquela história de evitar o famoso primeiro gole, nosso cérebro funciona como um livro aberto no qual nós escrevemos nele. Quando paramos de beber o livro é fechado, podemos passar anos a fio sem beber, uma vez ingerido o primeiro gole, o livro é reaberto na página em que foi fechado e a história continua de onde tinha parado como se não houvesse nenhum lapso de tempo. Passei a tomar medicamentos que ajudavam a tirar a compulsão e que redimensionavam o funcionamento do metabolismo basal do sistema nervoso.

Duas drogas de tarja preta e muito fortes, que passaram a me deixar em marcha lenta, sonolento por algum tempo. Eu tocava num boteco no centro do Recife e passei a me apresentar neste ambiente boêmio tomando água mineral e refrigerantes, não deixei de andar nos bares do Recife Antigo para onde me dirigia com freqüência, em companhia dos meus amigos que sempre bebem bastante. Ou seja, não me isolei como eremita dos ambientes boêmios, enfrentei o desejo de beber de frente, não mudei de ambiente social, enfrentei o leão dentro da sua jaula. Causei variadas reações nos antigos parceiros de bebida, alguns ficaram indiferentes, outros fazendo chacota. Um outro grupo querendo me trazer de volta ao vício na crença de que eu (e eles também) não éramos doentes, e que nada havia demais em tomar uma cervejinha. Fui até ofendido por um deles metido a profeta e sábio que me disse literalmente: “ ..Allan Sales, vocês está perdendo o seu caráter..” um trapo humano que é escravo até hoje do álcool e que me dizia que não concebia sua vida sem o álcool.

A maior luta pra mim não foi a falta da bebida em si, porém todo ritual em torno do álcool, a maioria de meus contatos sociais é de pessoas que bebem em variados graus, fiquei como peixe fora d’água inicialmente, aos poucos fui readaptando minha presença no meio social que nunca abandonei por conta da abstinência. Hoje acordo bem mais cedo do que em tempos em vivia entre dois estados de consciência: bêbado e de ressaca. Tenho outra disposição física e mental, embora muitos “artistas” me perguntem como é que eu consigo compor música e escrever poesia sem nenhum “estímulo”, assim como eu consigo curtir os eventos sem o auxílio externo de algum “estimulante”. Sem moralismos baratos e sem nenhuma conversão religiosa fajuta, vivo assim fora do vício e conto cada ano mês e dia de cara limpa: 5 anos, dois meses e 23 dias sem beber. Acho que essa experiência de vida e esse testemunho algo que pode vir a ajudar alguém que esteja hoje no mesmo inferno em que vivi por 21 anos de minha vida.

CORDEL: CONSTRUINDO OUTRO DESTINO
Autor: Allan Sales
       (1)
Vou contar uma história
Cem por cento verdadeira
Eu então jovem mancebo
De juventude fagueira
Iniciei meu tormento
Pois neste triste momento
Eu entrei na bebedeira
       (2)
Era só por brincadeira
Dos amigos camaradas
Eu tocava violão
Para animar as noitadas
Eram alegres pelejas
Vinhos conhaques cervejas
Nas farras tão animadas
       (3)
Eram tantas as paradas
E ali bem postado
Pois só sabia curtir
Se estivesse embriagado
Tal como meu pai bebia
Na mesma estrada eu ia
A tornar-me um viciado

       (4)
Sem perceber-me logrado
Embarquei nesta canoa
Era alegre a boemia
Conhecer tanta pessoa
Encher a cara por nada
Curtir a turma animada
Para mim ô coisa tão boa
         (5)
Mas eu ficava à toa
Fazendo minhas besteiras
Pois o bebum perde o rumo
E também as estribeiras
Discute e compra briga
Pois o álcool o instiga
A fazer tantas bobeiras
         (6)
E nas farras corriqueiras
Sem saber-me compulsivo
Geneticamente propenso
A um vício corrosivo
Fui beber além da conta
A cuca pra lá de tonta
Ficava brabo e explosivo
Hoje isso eu não vivo
Procurei um tratamento
Aos 41 de idade
E vinte de sofrimento
Minha irmã me apoiou
Meu filho me implorou
Deixar o vício nojento
         (8)
E assim neste intento
Fui falar com o doutor
Jorge meu psiquiatra
Que foi esclarecedor
Mostrou-me o quadro real
Deste vício bestial
Tormento de  um bebedor
         (9)
Meu pai foi um sofredor
Por causa do alcoolismo
Assim como avô paterno
Caiu também neste abismo
Que altera a consciência
Provoca queda e demência
E falo sem moralismo
         (10)
Beber afirma o machismo
É um ato cultural
Mostrar que é cabra macho
Eu fui assim afinal
Com genética herança
Fui fundo nesta lambança
Mas nela pus um final
         (11)
A luta foi crucial
Por causa do ambiente
Altamente permissivo
Aonde eu era vivente
Amigos todos farristas
Biriteiros ativistas
Cachaceiros no batente
         (12)
Mesmo assim fui em frente
Da parada não corri
Rompendo com o passado
Que até então eu vivi
Tomar um outra atitude
Cuidar melhor da saúde
Opção que escolhi
         (13)
E assim como parti         
Em busca de uma mudança
Muita gente me tentou
Chamou de volta pra dança
Oferecendo bebida
Desgraça da minha vida
Que hoje não me alcança
         (14)
A luta nunca se cansa
É permanente e diária
Ser sóbrio a cada dia
Numa luta temerária
Muita gente faz chacota
Muitos chegam com lorota
Incredulidade vária
         (15)
A coragem necessária
Até hoje eu a tenho
Vejo a alegria dos filhos
Vendo meu sóbrio empenho
Melhorei a minha vida
Que hoje melhor é vivida
Com um melhor desempenho
         (16)
Outro caminho eu desenho
Mas permaneço atento
Pois as tentações do mundo
Tem variado fomento
Ainda estou nas noitadas
Violas enluaradas
Meu ofício por intento
         (17)
Permanecendo atento
Vigilante a cada dia
Consciente que o vício
Fez minha vida vazia
Hoje traço outro caminho
A poesia e meu pinho
São a minha companhia
         (18)
Faço outra cantoria
O novo eu determino
Prosseguindo firme e forte
O que aprendi ensino
A bebida pus de lado
Sóbrio não embriagado
Construindo outro destino

Allan Sales, 56 anos: 15 anos, dois meses e 24 dias sem beber